À margem da Reunião Anual do Grupo de Trabalho sobre Auditoria e Gestão de Sistemas de Informação (WGISAM), que decorre esta semana em Luanda sob os auspícios da AFROSAI-E e com o acolhimento do Tribunal de Contas de Angola, o Presidente da plataforma, Eng.º Brighton Mpatisha, destacou o papel crescente da inteligência artificial (IA) na evolução das auditorias públicas em África.
Segundo o alto funcionário da ISC da Zâmbia, a inteligência artificial deixou de ser apenas uma tendência tecnológica para se tornar um tema estratégico no seio das Instituições Superiores de Controlo (ISC) africanas.
“Muitas das nossas ISC enfrentam ainda dificuldades não só em definir o que é IA, mas principalmente em perceber como integrá-la nas actividades diárias de auditoria”, explicou.
Neste contexto, o Grupo de Trabalho sobre Auditoria e Gestão de Sistemas de Informação integrou o tema da IA na sua agenda técnica para 2025, incluindo-o nos projectos de investigação, partilhas de conhecimento e formações práticas, com o objectivo de aproximar esta ferramenta tecnológica dos auditores africanos.
Nos domínios da Ética, da privacidade e da responsabilidade considerou que introdução de novas tecnologias exige também novos modelos de pensamento, tanto do ponto de vista crítico como ético. Interpelado sobre os riscos da IA, Brighton Mpatisha foi claro:
“Enquanto auditores públicos, temos uma responsabilidade perante os cidadãos. Devemos garantir que o uso da IA não compromete valores como a privacidade, a segurança da informação e a integridade do processo de auditoria.”
Referindo-se às orientações da INTOSAI, reforçou que as ISC devem adicionar valor às finanças públicas e contribuir directamente para a melhoria da vida dos cidadãos, assegurando sempre que a tecnologia seja utilizada com discernimento e responsabilidade.
Exemplos práticos e uso de ferramentas como o ChatGPT
O Presidente do WGISAM partilhou exemplos concretos de utilização de ferramentas baseadas em IA no trabalho de auditoria:
“Temos auditores a utilizar o ChatGPT e o Copilot para obter sugestões de programas de auditoria em ambientes técnicos complexos que nunca tinham auditado. Essas ferramentas podem apoiar na preparação e estruturação do trabalho, especialmente quando usadas com critério.”
Contudo, alertou para a necessidade de saber filtrar a informação produzida por IA, de forma a garantir a fiabilidade e a coerência dos procedimentos auditoriais.
Angola leva em consideração a pertinência da realização do WGISAM 2025 no país e sublinha o compromisso do Tribunal de Contas com a transformação digital, a capacitação técnica dos seus quadros e o alinhamento com as melhores práticas internacionais em auditoria de sistemas de informação.
“O auditor do futuro precisa de dominar os dados, compreender a IA e ter a atitude certa para se manter relevante. É esse o perfil que estamos todos, em conjunto, a construir”, concluiu.
Por Alexandre Cose & Cesaltina Satyohamba
Foto: Emanuela Narciso