No âmbito da Reunião Anual de 2025 da AFROSAI-E, acolhida pelo Tribunal de Contas de Angola, o intérprete e profissional do Tribunal Administrativo de Moçambique, Ico Lalá Aly, partilhou, em entrevista exclusiva, a sua visão sobre o papel da mediação linguística e cultural no reforço da cooperação entre as Instituições Superiores de Controlo (ISC) da região africana.
Segundo o especialista, que presta serviços de interpretação à AFROSAI-E em diversas acções formativas, a língua é muito mais do que um simples instrumento de comunicação. “É uma ponte estratégica, que permite o intercâmbio de experiências, o fortalecimento institucional e a partilha de lições aprendidas entre os países membros”, afirmou.
Durante a conversa, Ico Aly destacou a importância da tradução consciente como facilitadora do processo de aprendizagem e integração regional. “A escolha das palavras pode desbloquear ou bloquear o entendimento de quem está a ouvir. A nossa função é garantir que a mensagem seja captada com clareza e rigor, respeitando os contextos institucionais e técnicos de cada ISC”, explicou.
Desníveis de maturidade digital e o papel da mediação
O intérprete reconheceu que existem níveis distintos de maturidade digital entre as ISC africanas, reflexo das realidades económicas, políticas e tecnológicas de cada país. Destacou o exemplo da África do Sul, que já recorre à robótica em auditorias, e o de outras ISC que estão a dar os primeiros passos na digitalização. A mediação linguística, segundo Ico, tem sido essencial para traduzir conceitos técnicos e enquadrar os contextos nacionais, permitindo avaliações mais justas e eficazes.
Sobre a ISC Angola, Ico Aly foi categórico: “É uma ISC promissora, com quadros muito capazes e uma forte vontade de evoluir”. Reconheceu os esforços do Tribunal na construção de uma plataforma digital integrada, bem como a sua participação activa nos grupos de trabalho regionais sobre auditoria digital.
Ao ser questionado sobre os impactos das acções de formação, Ico referiu que as mudanças são visíveis tanto a nível individual como institucional. Exemplificou com a rápida adopção da nova norma internacional ISA 140, que introduz uma visão holística da gestão da qualidade nos processos de auditoria pública. A participação da ISC Angola em workshops sobre esta norma foi elogiada como um sinal de compromisso com a modernização.
Encerrando a entrevista, Ico Lalá Aly expressou o seu apreço por Angola: “É sempre um prazer estar aqui. Angola é um país irmão, com um povo hospitaleiro, e estarei sempre disponível para contribuir com o que puder, por Angola e pela região”.
A Reunião Anual da AFROSAI-E em Luanda tem sido palco de importantes reflexões sobre inovação, cooperação e desenvolvimento institucional — e a mediação linguística, tantas vezes invisível, revelou-se mais uma vez um elemento estratégico para o sucesso da integração africana no domínio do controlo externo.
Por : Alexandre Cose com Cesaltina Satyohamba
Foto: Emanuela Narciso