Auditoria baseada em dados e tecnologia pode encurtar prazos e reforçar a integridade das contas públicas em África
A auditora assistente da Direcção de Sistemas de Informação e Auditorias Forenses do Tribunal de Contas da Namíbia (SAI Namíbia), Eng.ª Ophelia Ntelamo, defendeu, em declarações à equipa de comunicação do Tribunal de Contas de Angola, o papel transformador da Inteligência Artificial (IA) e da automatização na análise de dados aplicados à auditoria pública.
Segundo a especialista, ferramentas como o machine learning, o Natural Language Processing (NLP) e a Robotic Process Automation (RPA) oferecem hoje possibilidades concretas de detectar irregularidades e fraudes em tempo real, reduzindo o tempo de execução das auditorias e permitindo o reforço dos mecanismos de controlo interno e de gestão de risco nas instituições públicas.
“Com o uso de machine learning, por exemplo, é possível prever padrões de fraude com base em dados históricos, mesmo antes de estes se concretizarem, ao contrário dos métodos tradicionais que apenas reagem depois da ocorrência”, explicou a auditora.
No campo do Natural Language Processing, Ntelamo sublinhou que esta tecnologia permite analisar automaticamente contratos e documentos volumosos, identificando cláusulas anómalas ou fora do padrão legal, sem necessidade de revisão manual exaustiva.
Já no domínio do RPA, destacou a capacidade de automatização de tarefas repetitivas, libertando os auditores para funções de maior valor analítico. “A conjugação destas três tecnologias permite uma abordagem mais eficiente, preventiva e estratégica da fiscalização financeira”, acrescentou.
Literacia de Dados: Capacitar os Auditores para o Futuro
A auditora namibiana partilhou também a experiência do seu país no que diz respeito à promoção da literacia de dados entre os auditores, explicando que a SAI Namíbia implementa anualmente um plano de capacitação técnica, com base nas lacunas identificadas no início de cada exercício financeiro.
Este plano inclui:
- Identificação de competências técnicas emergentes;
- Incorporação de metas formativas nos acordos de desempenho;
- Alocação orçamental específica para a formação contínua dos auditores.
Ntelamo sugeriu que o modelo namibiano poderia inspirar outras ISC africanas, como a SAI Angola, na construção de programas sistemáticos de reforço de capacidades digitais e técnicas.
Cooperação com Angola no Horizonte
Questionada sobre o potencial de colaboração com o Tribunal de Contas da República de Angola, a auditora foi clara:
“Apesar de ainda estarmos a desenvolver as nossas capacidades internas em matéria de Inteligência Artificial, há espaço para cooperação directa entre as nossas ISC, especialmente na criação de ferramentas partilhadas que sirvam os objectivos comuns de modernização e transparência.”
A entrevista insere-se no contexto das actividades técnicas promovidas no seio da AFROSAI-E, rede regional de apoio às Instituições Superiores de Controlo em África, que tem apostado no reforço das competências digitais, auditoria baseada em riscos e inovação tecnológica como pilares da sua estratégia de longo prazo.
Por Alexandre Cose com Cesaltina Satyohamba
Foto: Emanuela Narciso